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A MANIPULAÇÃO DO TEMPO NA DRAMATURGIA



Um filme tem que apresentar um fluxo de imagens e sons contínuos e lógicos, mas isso não quer dizer que deve ser exatamente assim durante toda a narrativa. Há ocasiões em que se deve retratar um conflito confuso de forma que o público seja emocionalmente suscitado por ele. E é sobre isso que vamos falar hoje.


Um filme é o registro de um acontecimento, seja ele fato, ficção ou fantasia e por isso as imagens têm de reproduzir um mundo verossímil. E ele pode criar o próprio tempo e espaço pra se adequar a qualquer situação particular da narrativa. O tempo pode ser comprimido ou expandido, acelerado ou retardado; permanecer no presente ou ir par ao futuro; ou até mesmo ser congelado pelo período que se desejar.


A verdade é que o uso correto do tempo e do espaço irá agregar valor audiovisual para o seu projeto. Já o mau uso pode destruir a receptividade do público aos acontecimentos mostrados na tela.

Para isso não acontecer, os elementos de um filme devem ser integrados para que completem um ao outro, representando a ação da maneira correta e fluida. A boa continuidade estimula os espectadores a se deixarem levar pelas narrativas, convidando-os a se envolverem na história mostrada na tela. Caso eles tenham que adivinhar para onde a câmera subitamente se virou, ou o porquê de uma mudança sem explicação na ação de um ator, quebra-se o encanto.


CONTINUIDADE TEMPORAL


O tempo real só se movimenta para frente, de maneira cronológica. Já a cronologia fílmica, no entanto, pode representar a história no que chamamos de “tempo ideal”. O tempo de um filme é dividido em 4 categorias: presente, passado, futuro e condicional. Independente de como será retratado o tempo, ele deve ser facilmente compreendido pelo público. Os únicos limites são a imaginação, o bom senso e as habilidades técnicas daqueles que produzem os filmes.


A CONTINUIDADE EM TEMPO PRESENTE


A continuidade em tempo presente é a ação como se ocorresse agora. É o método mais popular e menos confuso de se apresentar uma narrativa. Todos os acontecimentos transcorrem de maneira lógica e direta, assim, independentemente dos deslocamentos transições e lapsos de continuidade da história, o público sempre estará vendo no presente. Ao observar os fatos dessa maneira, o espectador tem a sensação de participar do que está sendo mostrado na tela. Nem ele nem os personagens sabem o que virá em seguida. Isso deixa o espectador interessado em acompanhar a história até a sua conclusão.


A CONTINUIDADE EM TEMPO PASSADO


A continuidade em tempo passado pode ser dividida em dois tipos: fatos que ocorrem no passado e flashbacks do presente para o passado. Eu explico. Os fatos que ocorrem no passado, normalmente apresentados como um prólogo de algo, são representados de forma similar à continuidade de tempo presente. A diferença é que o público deve estar ciente do elemento tempo envolvido.


Já o flashback é, na maioria das vezes, um retrocesso no tempo para retratar parte de uma história mostrada anteriormente. Pode ainda repetir um acontecimento sob outro ponto de vista. Desse modo o personagem conta uma história que aconteceu há anos ou explica um incidente da história presente que não tenha sido mostrado ao público. Geralmente usa-se flashback para explicar um aspecto da trama, mostrando o que de fato aconteceu numa história ou contextualizar o enredo ao mostrar o que houve antes e que levou à situação presente.


Não há limite para se usar flashbacks num filme desde que a história sempre retorne ao presente e a edição seja cuidadosamente planejada para não confundir o público, principalmente quando vários personagens contam uma parte da história.

Os flashbacks, no entanto, têm algumas desvantagens. Eles tendem a romper a continuidade cronológica e bagunçar a cabeça do espectador. Se for muito longo, ele pode recuar no tempo narrativo e impedir que se construa a progressão convencional rumo ao clímax da história ou até mesmo antecipando o seu final. Isso pode ser resolvido iniciando-se a narrativa um pouco antes do clímax final, usando o flashback para contar a história até o ponto em que o filme começou e só então a história retorna ao presente para o seu desfecho.


CONTINUIDADE EM TEMPO FUTURO


Da mesma forma que a anterior, a continuidade em tempo futuro pode cair em duas categorias: fatos que ocorrem no futuro e os flashforwards. No primeiro o fato é apresentado com continuidade em tempo presente, como se estivesse acontecendo agora. Desse modo uma história que passe no futuro pode trazer um epílogo de uma história ou fatos imaginados por um personagem na história presente. Por exemplo que se passam anos na vida de um personagem.


Já o flashforward é o oposto do flashback, ele avança em direção ao futuro para descrever fatos que vão ou podem acontecer e então retorna ao presente.

O espectador é transportado para o futuro para que veja a história “como acontecerá ou pode acontecer”. Ele também pode ser representado em fragmentos subjetivistas, como se fosse um sonho ou imaginação. É preciso manter os espectadores cientes do elemento temporal para que eles não se confundam.


CONITNUIDADE EM TEMPO CONDICIONAL


A continuidade em tempo condicional não lida como tempo real. É a representação o tempo condicionado por outros elementos, tais como a atitude mental da personagem observando o fato; ou a memória; ou a imaginação que podem “ver um acontecimento de maneira distorcida com os olhos da mente. Uma vez que o tempo condicional é irreal, não há limites para a maneira de representá-lo.


Isso não significa que o tempo condicional não precisa fazer sentido. O público deve compreender o que está acontecendo, uma vez que o tempo pode ser eliminado, fragmentado, comprimido, distorcido, ou combinado de todas as formas possíveis, para que um ou mais acontecimentos possam ser apresentados de maneira contínua, o que seria impossível na vida real. Pode-se usar a continuidade em tempo condicional para expressar um pesadelo, delírio ou outro pensamento distorcido da personagem.


Essa técnica pode ser comparada com um fluxo de consciência, em que fatos, imaginários ou pensamentos claros e distorcidos, sem relação entre si – no presente, passado ou futuro, são embaralhados numa continuidade caótica.


Gostou das dicas? Então não deixe de curtir, deixar o seu comentário e compartilhar com todo mundo. A gente se vê na próxima cena.

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