O Futuro da Rentabilidade no Cinema Será Inversamente Proporcional ao Tamanho da Tela
- Cinemarketing Filmes
- 11 de jun.
- 3 min de leitura

Desde que iniciei minha jornada no audiovisual, lá em 1997, vi o mundo se transformar inúmeras vezes. Vi o VHS dar lugar ao DVD, a TV aberta reinar soberana e, depois, ser desafiada pelo streaming. Hoje, com mais de duas décadas de experiência dirigindo, roteirizando e produzindo para diversas telas, uma convicção se torna cada vez mais clara para mim: a rentabilidade e o impacto de um filme ou série no futuro serão inversamente proporcionais ao tamanho da tela em que são consumidos.
Pode parecer contraintuitivo em uma era de superproduções e orçamentos que ultrapassam centenas de milhões de dólares. Mas é justamente aí que reside o paradoxo. O modelo tradicional, focado no cinema e nas grandes plataformas, opera em um funil cada vez mais estreito. Os custos são astronômicos, o risco é altíssimo e, como resultado, poucos projetos inovadores conseguem financiamento. O mercado de streaming, antes visto como um oceano de oportunidades, hoje enfrenta a saturação, tornando-se mais seletivo e competitivo.
Enquanto os gigantes duelam por espaço, uma revolução silenciosa acontece na palma da mão do público. Eu chamo o consumidor dessa nova era de "webespectador". Ele não espera o sábado à noite para ir ao cinema; ele consome conteúdo em "micro-momentos" – na fila do banco, no transporte público, na pausa do café. Ele busca entretenimento para "se distrair". No início da minha pós-graduação, em 2004, uma coordenadora me disse que "vídeo pela internet não vai para frente". Continuei pesquisando e apostando nesse novo universo, pois sempre acreditei que o cinema precisa ir "onde o povo está", e hoje, o povo está com o celular na mão.
Esse novo consumidor abre as portas para uma nova forma de enxergar nossas criações: não apenas como obras de arte, mas como infoprodutos. Um infoproduto é escalável, permite um relacionamento direto com a audiência e abre múltiplas janelas de monetização que independem dos grandes distribuidores. Com uma websérie, por exemplo, você pode construir uma comunidade engajada, financiar novas temporadas via crowdfunding, vender produtos licenciados e, principalmente, ter controle total sobre sua propriedade intelectual. Minha websérie "Heróis" (2011), sobre os pracinhas brasileiros na Segunda Guerra, foi a "virada de chave" na minha carreira. Produzida em Minas Gerais com recursos limitados, ela viajou o mundo, foi premiada em Los Angeles e selecionada para o Marseille Web Fest, provando que uma boa história, mesmo nascida longe dos grandes centros, pode ter alcance global quando encontra o canal certo.
Este modelo não é apenas mais rentável; ele é criativamente mais livre e democrático. Com a tecnologia atual, é possível criar obras de altíssima qualidade com muito menos. Minha nova websérie, "O Dia da Caça", foi inteiramente gravada com um iPhone 15 Pro , com financiamento da Lei Paulo Gustavo e talentos da minha região. Para organizar esse processo, desenvolvi a metodologia Lean Film Design , que integra Design Thinking e Inteligência Artificial para prototipar e desenvolver projetos de forma ágil para qualquer tela. A IA, usada como assistente, nos ajuda a analisar tendências e a entender o público , mas a alma, a criatividade e a sensibilidade continuam sendo profundamente humanas. Mas a discussão do uso da IA nos processo audiovisuais vamos tratar em outro artigo.
Não estou decretando o fim das grandes telas. Elas sempre terão seu lugar como templos da experiência cinematográfica. O que defendo é que a sustentabilidade, a inovação e a rentabilidade para a maioria dos criadores não estarão mais lá. A rentabilidade do futuro não virá da grandiosidade da tela, mas da profundidade da conexão. Virá da construção de comunidades, da entrega de valor contínuo e da coragem de contar histórias autênticas para nichos apaixonados. O futuro do audiovisual é ágil, independente e está, cada vez mais, nas telas que nos acompanham o dia todo.
Qual a sua visão sobre o futuro do audiovisual? Você acredita que o tamanho da tela ainda define o sucesso de uma história? Vamos conversar nos comentários.
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