Dramaturgia televisiva em crise: será hora de voltar ao básico?
- Cinemarketing Filmes
- 16 de mai.
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A dramaturgia televisiva passa por um momento de transição crítica. As mudanças de comportamento do público, somadas à ascensão das plataformas digitais e da cultura do streaming, têm gerado impactos profundos na forma como consumimos narrativas audiovisuais. As redes de televisão aberta, que por décadas dominaram o imaginário coletivo com suas novelas diárias, hoje enfrentam um fenômeno claro: a perda constante de audiência. E, com ela, a perda de relevância cultural.
Em uma tentativa de reverter esse quadro, muitas emissoras adotaram a estratégia de incorporar elementos da linguagem da internet às suas produções, como o uso intensivo de memes, expressões populares de redes sociais, gírias efêmeras e uma estética mais próxima do conteúdo digital. A intenção era clara: aproximar-se de um público mais jovem, digitalizado e volátil. No entanto, o resultado não foi o esperado. Em vez de conquistar novos espectadores, essa tentativa de adaptação gerou uma desconexão ainda maior com o público tradicional, sem realmente atrair a nova geração.
Essa crise de linguagem revela um problema mais profundo: a televisão não está apenas perdendo audiência, mas também sua identidade. Ao tentar se moldar aos códigos da internet – uma mídia regida por velocidade, fragmentação e tendências passageiras –, a dramaturgia televisiva muitas vezes abre mão de sua maior virtude: a capacidade de contar boas histórias com profundidade emocional e personagens complexos. Ao contrário das redes sociais, a TV sempre teve como força a construção lenta e envolvente de mundos, o investimento em relações humanas e o desenvolvimento dramático ao longo do tempo.
Talvez, em vez de buscar soluções fora de si, a televisão deva olhar para dentro. Redescobrir o que a torna única. A emoção de uma boa história continua sendo um dos elementos mais poderosos de qualquer narrativa. O público, mesmo em meio ao turbilhão de estímulos digitais, ainda é tocado por conflitos universais, por jornadas humanas que falam de dor, amor, desejo, perdão e transformação. A empatia com personagens fortes, bem construídos e que evoluem diante dos nossos olhos, é um recurso que jamais perdeu seu valor – e talvez nunca perca.
O futuro da dramaturgia televisiva pode estar, paradoxalmente, em um retorno ao básico. Isso não significa regredir, mas sim reafirmar os fundamentos da boa narrativa: roteiros consistentes, direção sensível, atuação comprometida e histórias que não têm medo de emocionar. A televisão não precisa competir com a internet tentando imitá-la; ela pode (e deve) reafirmar sua singularidade enquanto espaço de construção dramática e envolvimento emocional.
Enquanto a linguagem das plataformas digitais continuará evoluindo rapidamente, as bases da boa dramaturgia permanecem as mesmas. O desafio, portanto, é encontrar formas criativas de contar histórias contemporâneas sem perder a essência do que sempre nos conectou diante da tela: a verdade humana por trás de cada personagem, e o poder da ficção de nos fazer sentir.
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