
Desde o início de O Dia da Caça, eu sabia que queria construir algo visualmente marcante, uma experiência onde o espectador não apenas assistisse à história, mas sentisse o peso psicológico que ela carrega. As primeiras imagens da série me confirmaram que estamos no caminho certo: cada cena, cada sombra, cada feixe de luz conta uma parte da trama, transformando Pedra Negra em um personagem tão importante quanto os protagonistas.
Sempre fui fascinado pelo cinema noir e sua capacidade de criar tensão e mistério através da estética. Para O Dia da Caça, trouxemos esse conceito para um contexto moderno, utilizando composições carregadas de sombras densas, iluminação contrastada e enquadramentos que amplificam a sensação de paranoia e isolamento. O resultado é um visual que não apenas dialoga com o suspense da narrativa, mas também mergulha o público na psique dos personagens. Pedra Negra, com suas ruas escuras e interiores sufocantes, se torna um ambiente opressor, onde nada é o que parece e onde a verdade se esconde nas entrelinhas.

Ao dirigir essa série, um dos meus principais desafios foi garantir que a linguagem visual refletisse a densidade emocional dos personagens. Mônica, interpretada brilhantemente por Maria Luiza, é uma jovem marcada pelo trauma, e queríamos que cada frame transmitisse essa carga emocional. Muitas vezes, optamos por planos fechados e cortes abruptos, reforçando sua sensação de aprisionamento e desorientação. Já o Delegado Paulino, vivido por Jerry Magalhães, surge envolto em sombras e reflexos, como se ele próprio fosse um espectro movendo-se entre a luz e a escuridão, sempre manipulando, sempre escondendo algo. Dr. Emanuel, interpretado por Leo Souza, carrega o fardo da culpa, e sua presença em cena é marcada por gestos nervosos, olhares esquivos e uma luz sempre oscilante, reforçando sua fragilidade moral.

O noir moderno nos permitiu explorar o suspense de maneira visceral. Trabalhamos com uma cinematografia que transforma os espaços em metáforas do estado psicológico dos personagens. O uso de luz dura, recortes de silhuetas e uma paleta fria criam um ambiente onde o espectador nunca se sente completamente seguro. Os flashbacks de Mônica, por exemplo, são construídos com imagens instáveis, movimentos imprecisos, como se a própria câmera estivesse fragmentada junto com sua memória.

Agora, vendo as primeiras cenas finalizadas, sinto que conseguimos criar algo realmente impactante. O Dia da Caça não é apenas um suspense policial, é um mergulho profundo na complexidade moral de seus personagens. Aqui, não existem mocinhos ou vilões simplificados. Todos carregam suas sombras, e a busca pela verdade pode ser tão brutal quanto a mentira. A série está prevista para março de 2025, e tenho certeza de que, quando o público entrar nesse universo, sentirá a mesma tensão que sentimos ao criá-lo.
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